domingo, 2 de dezembro de 2012

Os festivais de teatro



A coluna Palcos e Atores, onde Patrícia divulga foto de Greghi Filho, que atuou na peça Fando e Lis, traduzida por ela. A peça estreou no Festival de Teatro Amador de Santos (Reprodução do arquivo de A Tribuna).

Toda a produção teatral de vanguarda era apresentada nos dois grandes eventos que marcaram a história do teatro, realizados graças ao empenho de Patrícia. O Departamento Cultural de A Tribuna promovera, em 1958, em conjunto com a Comissão Estadual de Teatro, o I Festival de Teatro Amador para Santos e Litoral, considerado o mais antigo do gênero em atividade no Brasil. Coordenado e realizado por ela, contou com a colaboração de Maurice Lègeard, Wilson Geraldo, Evêncio da Quinta, Plínio Marcos (eleito melhor ator) e Paschoal Carlos Magno. Notícias como o recente convênio assinado com a EAD e os resultados do festival animavam Patrícia naquele início de 1959:

No nosso setor municipal, todos têm mais ou menos percebido que, embora num dos últimos postos da corrida, viemos acompanhando o ritmo que talvez seja tanto ou mais acelerado de que as demais cidades e até a capital, pois plantamos a semente na areia, há tão pouco tempo, e ela já esta brotando com o entusiasmo da criança sadia. O Festival de Teatro Amador de Santos foi nota marcante no cenário municipal, com a apresentação de dois grupos  amadoristas que souberam cumprir a “sua missão” além de nossas expectativas. E o vencedor, o grupo dos Jovens Independentes, foi convidado a inaugurar o Festival de Teatro Amador de São Paulo com a peça “A Farsa dos meninos bonitos”, de Evêncio Martins da Quinta, jovem autor santista que Santos apresentou à capital.

A participação de Plínio no primeiro festival abrira “uma comporta de estimulação aos jovens que pretendem escrever para o teatro”, escreveu. Já o segundo festival contou com menos inscritos. Patrícia lamentou “uma certa debandada no comparecimento de grupos como os do Atlético, Centro Português e Sírio-Libanês entre os demais, que sempre tiveram ótima acolhida do público”. Em compensação, apontou a presença de peças vanguardistas, como as de  Ghelderode e Arrabal, além da grande participação de autores locais. Os Independentes levaram ao festival A Demissão, também de Evêncio da Quinta, e O Rústico, do original O Urso, de Anton Tchecov.

O lado absolutamente positivo do nosso II Festival é a apresentação de grupos novos e a participação de autores santistas, ou residentes em Santos, como Oscar Von Pfuhl, Enzo Poggiani, Evêncio Martins da Quinta, premiado no I Festival, José Castellar e Plínio Marcos de Barros, o que marca mais de 50 por cento de autores locais.

Ela sempre procurava incentivar a produção. Em 1959 (mesmo ano em que a cidade sediara o II Festival Nacional de Teatro de Estudantes), Patrícia, vendo ressurgir o entusiasmo dos estudantes diante da aproximação do segundo festival regional, alertava para que a chama não se apagasse após o fim do evento, e sobre a necessidade de se manter e criar uma tradição de teatro.

Hoje que Santos recebe estudantes de teatro, teatros de estudantes, a tentativa de há três anos merece ser recolhida num registro; não o consolo de uma frustração, mas a justificação de que estávamos acertados quando propagávamos entre moças e moços de nossas escolas o amor às coisas do teatro, essa ponte amável da cultura e da arte para a vida.

Patrícia acreditava que, ao promover diversas atividades, reunir todos os grupos existentes em Santos e incentivar a formação de outros, a União do Teatro Amador de Santos poderia “doravante, comparecer aos certames estadual e nacional, com repertórios melhorados e maior disciplina e interesse”.

Por iniciativa de Paschoal Carlos Magno e Patrícia, Santos sediou o II Festival Nacional de Teatro de Estudantes em 1959, um evento que trouxe a Santos milhares de artistas e interessados nessa arte.

Um comentário:

  1. Parabéns, Márcia, por abordar esta parte da história do teatro em Santos, lembrar Evêncio, Wilson que nem parecem ter existido. Em uma entrevista à revista "Realidade" de 1968, se não me engano, Plínio declarou que Maurice e Patrícia o incentivaram e o auxiliarem na mintagem de "Barrela".

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