É com uma alegria extrema que li o livro De Pagu a Patrícia, O ultimo ato, da jornalista e pesquisadora Márcia Costa. O livro joga uma luz profundamente humana na ultima fase da vida de Patrícia Galvão, seu exílio em Santos, que é equivalente ao exílio de Mário de Andrade no Rio de Janeiro. De Pagu a Patrícia, O ultimo ato deve ser, com urgência, transformado em filme documentário. Alô, cineastas de plantão! Alô, cinemaconha! Vamos trabalhar, vamos fazer, vamos criar!
O delicado, preciso, bem documentado e por isso essencial livro de Márcia, guarda alguns pontos de contato com o livro do Sr. Moacir Werneck sobre o exílio de Mário de Andrade no Rio, mas Márcia vai mais longe, ela não cai na recriação romântica emocionante e sintética do grande ensaísta, ela jamais perde a humildade do jornalista diante dos fatos e alia a isso o rigor dos pesquisadores científicos.O tom do texto de Márcia, em alguns momentos, evoca a voz de um narrador capaz de uma objetividade que preserva a distância segura da ficção, se aproxima de um olhar terno e apaixonado por seu tema. É um complemento elegante e lúcido para a deslumbrante, pesada e monumental fotobiografia Viva Pagu, de autoria da professora Maria Lúcia Teixeira. Márcia não pretendeu realizar o livro definitivo, nem dar a palavra final sobre a vida e obra de Patrícia Galvão. Sua intenção foi apenas a de fazer um preciso acompanhamento, levantamento dos últimos anos da vida intelectual de Patrícia Galvão.
Fica patente no livro, a discrepância e desafinação da época atual com a riqueza e ousadia criativa da época de Pagu. Hoje temos mais diversidade, mas as criações são marcadas pela dispersão, diletantismo, oportunismo e pelo uso infantil de uma ideologia de bravatas e retóricas pseudo-intelectuais. Bons artistas se perdem num discurso vazio em defesa de vanguardas mortas, identidades já absolutamente superadas pela realidade, miragens teóricas que confundem a discursividade obsessiva com a nitidez do pensamento ensaístico, e pululam pseudo-poetas e pseudo-revolucionários. O maior mérito do livro de Márcia é que nele podemos saber como era a vida cultural num tempo onde as imposturas intelectuais eram desmascaradas e não como hoje louvadas em papel de jornal, "redes sociais" e blogs.
Nota: É claro, que eu frequentei e participei de vários Saraus, mas meu pensamento é lúcido e sei que estes eventos são apenas um paliativo, uma aspirina para um doente terminal chamado "Cultura". Amo o seminário, o colóquio, o debate, enfim, o acontecimento que tenha em seu centro o dialógico. Sou pelo centro dialógico como centro cultural. Recentemente participei de um belo espetáculo dirigido pelo Márcio Barreto e pela Célia Faustino, no Sesc Santos, chamado 'Poéticas para um novo tempo', algo que embora se pareça um pouco com um sarau poético musical, é outra coisa e está longe da boçalidade dos tais saraus disso ou daquilo. Ah, antes que o mundo acabe lá no Xingu, devo registrar aqui, que a coreógrafa Célia Faustino, que não dorme no ponto, realizou o espetáculo ‘Estudos para o Azul’, inspirado no livro de Márcia.
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