sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Santos cultural dos anos 50 (trecho do livro)

O Parque Balnerário Hotel, palco de apresentações artísticas
A Santos portuária caracterizava-se, ao lado do Rio de Janeiro, como principal via de entrada no país das novidades estéticas e culturais, em grande parte originárias da Europa. Companhias teatrais e grupos musicais que chegavam ao Brasil faziam uma breve parada em Santos, onde muitas vezes ocorria a sua primeira apresentação ao público brasileiro, antes de partir para São Paulo ou outro destino. Artistas estrangeiros em turnês pelo Brasil apresentavam-se no Teatro Coliseu, na Boca (zona boêmia localizada na área portuária de Santos), nos cassinos, no Clube XV, no Parque Balneário (espécie de clube noturno). Grandes orquestras estiveram na cidade, como a de Tommy Dorsey, que tocou no tradicional Clube XV, conta Tereza Cavalcante Vasques, professora de línguas e de História da Arte, que testemunhou tudo isso na adolescência.

Tempo da Santos nostálgica, ligada às imagens da cidade portuária e do alvoroço cosmopolita, quando o porto das viagens marítimas ainda não perdera espaço para as viagens de avião e a carga dos navios ainda não era transportada por containers que, a partir dos anos 70, iriam promover a redução do tempo de embarque e desembarque dos navios diminuindo o número de pessoas da tripulação em circulação pela cidade, explica Alessandro Atanes, pesquisador das relações entre porto e literatura. Ocupada por cabarés e restaurantes, a vida noturna na Boca era considerada de tão boa qualidade quanto a do porto de Hamburgo. Seus espetáculos musicais e de dança (incluindo muito streap-tease) eram um atrativo para santistas e turistas. 

Estrangeiros traziam para Santos discos e livros. A importação da cultura europeia era feita, em sua maioria, pela elite santista, apreciadora da cultura erudita, relata Tereza. Assim como Patrícia, pequenos grupos que se interessavam pela arte – principalmente a estética francesa – acompanhavam as novidades e o debate das novas tendências por meio dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de publicações estrangeiras.
O cenário favorecia a discussão da cultura na imprensa. Nas páginas de A Tribuna, registros da chegada de grandes artistas, como a Cia do Teatro Italiano, que iniciou por Santos, em 1955, a sua turnê sul-americana, trazendo montagens de várias peças – entre elas, de Shakeaspeare e Pirandello. A bordo do navio Giulio Cesare, Renzo Ricci, um dos maiores atores italianos vivos, concedeu entrevista coletiva durante o coquetel que reuniu a imprensa local e de São Paulo.

Os atores Tony Curtis e Janet Leigh desembarcam no Porto de Santos 
em setembro de 1961 (Foto: Justo Peres) 

Imagem da Rádio Clube de Santos (década de 30), local que sediou as rádio-novelas, apresentações de teatro, palestras e muitas outros atrativos culturais.

Como repórteres de O Diário, Narciso de Andrade e Francisco de Azevedo tiveram sua trajetória marcada pelo porto de Santos nos anos 40. Nos navios que chegavam à baía entrevistaram viajantes estrangeiros, políticos de países vizinhos, como Argentina e Uruguai, empresários e artistas. “As grandes personalidades do mundo sempre passavam por aqui a bordo de navios de passageiros”, lembrou Narciso. “Levantávamos muito cedo, íamos de lancha marítima até o navio”, recordou o fotógrafo José Herrera.

Santos em imagensA Fundação Arquivo e Memória de Santos mantêm um rico acervo fotográfico da cidade de Santos, como as imagens aqui publicadas. Para o projeto deste blog colaboraram na pesquisa Isabel Christina M. do Nascimento (técnica em processamento iconográfico), Roseny Frauche (técnica em processamento iconográfico) e Marcelo Mathias (coordenador setor de acervo iconográfico), a quem agradeço pelo empenho e atenção.

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